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O Padre Aristides, por Sérgio Botelho

No dia 1º de novembro de 1901, Aristides Ferreira da Cruz, natural do sítio Lagoa, então termo de Pombal, foi ordenado padre no Seminário Diocesano da Paraíba, em João Pessoa, criado pelo primeiro bispo da Paraíba, Dom Adauto.

Após auxiliar diretamente o bispo paraibano, foi designado vigário de Piancó, um dos municípios mais antigos da Paraíba, decisão que acabou selando o seu destino, que o faria ser morto ainda muito jovem e de forma violenta.

A página histórica oficial de Piancó identifica sua chegada como ponto de virada na vida política local, quando passou a arbitrar disputas e a reorganizar serviços paroquiais e a fazer adversários entre as lideranças consagradas da região.

Como resultado, em julho de 1912 foi suspenso do exercício das ordens por decisão de Dom Adauto. Contudo, Padre Aristides seguiu normalmente cumprindo suas funções clericais, em desobediência às ordens diocesanas.

Foi morto em 9 de fevereiro de 1926, no episódio que a imprensa e a tradição chamaram de Hecatombe de Piancó, durante a passagem de destacamento da Coluna Prestes pela cidade.

A morte Padre Aristides virou trauma e mito. Jornais oficiais relataram a chacina com pormenores e nomes. Décadas depois, o padre-escritor Manoel Otaviano publicou “Os Mártires de Piancó”, obra que consolidou a memória do episódio e alimentou o debate público sobre a Coluna na Paraíba.

Segundo explicações posteriores de membro da Coluna Prestes, inclusive o próprio Luiz Carlos Prestes, a morte do Padre Aristides somente ocorreu por conta de resistência inesperada oferecida por ele e outros combatentes.

No tiroteio, tombou morto um dos sargentos da Coluna, Laudelino Pereira da Silva, que era muito estimado pelos demais companheiros, o que provocou ódio incontido e a consequente morte do padre e outros.

Governava a Paraíba, na época, o presidente João Suassuna, acusado de atiçar os piancoenses contra a Coluna. O resultado é que até hoje as nuances que levaram à morte do Padre Aristides ainda são motivos de debate.

BREVE RELATO SOBRE A COLUNA PRESTES
A Coluna Prestes foi uma marcha armada formada por jovens oficiais e civis inconformados com a República Velha. Começou a agir em 1925, após revoltas militares fracassadas. Seu objetivo era denunciar fraudes eleitorais e o poder dos coronéis. Propunha reformas políticas e maior atenção ao interior do país.

Os líderes mais conhecidos foram Luís Carlos Prestes e Miguel Costa. Eles defenderam uma guerra de movimento. Evitavam cercos longos e priorizavam deslocamentos rápidos. Essa tática confundia as forças legais e reduzia baixas.

A marcha percorreu mais de 25 mil quilômetros. Cruzou treze estados em dois anos. Foi a maior ação itinerante do tenentismo. Ao final, em 1927, os grupos remanescentes dispersaram-se na fronteira com a Bolívia.

No Nordeste, a Coluna entrou pelo Maranhão e Piauí. Passou pelo Ceará e Rio Grande do Norte. Em fevereiro de 1926, atravessou a fronteira da Paraíba rumo ao sertão.

A entrada na Paraíba ocorreu por Poço Dantas, então distrito de Uiraúna. A coluna seguiu por comunidades rurais e cidades como Vieirópolis, Sousa e Pombal, em direção a Piancó. A população local e forças estaduais organizaram resistências.

O episódio mais lembrado foi o relatado aqui, em Piancó, no dia 9 de fevereiro de 1926. Um confronto acirrado terminou com mortos dos dois lados. O padre e líder político Aristides Ferreira da Cruz foi morto nessa ação, fato que marcou a memória regional. Há versões divergentes sobre os gatilhos do confronto e suas responsabilidades.

O governo paraibano mobilizou a Força Pública e voluntários. Postos de vigilância tentaram bloquear estradas e boqueirões. Ainda assim, a Coluna manteve sua mobilidade e deixou o estado dias depois, seguindo por Pernambuco.

HW COMUNICAÇÃO

Fonte: Sérgio Botelho

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